Era uma manhã de céu carregado. Era uma
manhã plena de nuvens escuras. Era uma manhã em que as águas do espaço fluíam
com toda a força que a natureza possuía para empurrá-las, aos borbotões, em
direção ao solo.
Era
uma manhã em que em um local encantado eu entrei. Levada por minha amiga Fátima
Santos. Era uma manhã em que em um local encantado eu entrei atendendo a um
convite singelo que brotava do fundo do coração daquela gente que naquele local
encantado habitava.
Era
uma manhã de muita chuva que poderia bloquear o caminho de muitos. Mas não
bloqueou o caminho, como jamais bloqueará, para aqueles especiais seres ávidos
pelo conhecimento.
Uma
silenciosa fila de adolescentes à espera de sua vez a fim de, em um livro de
presença, o seu nome assinar. Porque eram partícipes de algo diferente para
mim.
Entramos
no aconchegante auditório.
Estávamos em um pleno dia letivo.
Sentia-se no ar o nervosismo, sentia-se no ar a curiosidade, sentia-se no ar a
agonia sufocada pelo evento que em momentos seria anunciado.
Estávamos
no aconchego do auditório do Instituto Federal de Santa Catarina. Estávamos no
Campus de Canoinhas.
Eu
não tinha ideia do que ali eu iria presenciar.
Muitos
dias antes haviam-me solicitado um exemplar de meu primeiro livro, do livro
onde conto as coisas do meu lugar. “O Meu Lugar”, que ostenta na capa uma
belíssima foto da estação ferroviária de Marcílio Dias. Uma foto do lugar onde vim ao mundo. Uma foto de Fátima Santos.
O evento fora programado para naquela
plataforma ser realizado. As intempéries, a chuva, o vento e o frio não
permitiram. Mas as imagens da minha estação de trem sucediam-se à minha frente.
De todos os ângulos, de todas as formas. Em todas as cores. Fotos de Fátima
Santos, naturalmente, entre outras.
Fotos
do restaurante da estação, o restaurante que meus Nonnos Pedro e Thereza Gobbi
construíram, nas mais diversas fases de sua desintegração, lá estavam também.
E as primeiras lágrimas começaram a
escorrer.
As
primeiras de uma série sem fim. As primeiras de uma série que continuou a se
repetir no decorrer das apresentações.
Tudo
eu poderia ter imaginado. Menos o deslumbramento a que assisti.
Ver
e ouvir um dos meus textos declamado em forma de poema!
Ver e ouvir a um outro que fora
transformado em melodia e a sua letra cantada em suavidade enterneceu-me
demais.
Assistir
meninas transformadas nos meus fantasmas dançantes das noites de chuva...
declamando o texto inteiro, com gestos dignos das estrelas que dançam... com as
luzinhas ao fundo como se fossem as luzes dos olhos dos fantasmas que me
olham...
Ver
os estudantes da Escola de Educação Básica “Manoel da Silva Quadros”, de
Marcílio Dias, especialmente convidados, trajados com a tradicional vestimenta típica
da região renana, apresentar um bailado com músicas germânicas, relembrando os
primeiros colonos que à minha vila aportaram.
E
depois conversar com aquelas meninas e aqueles meninos. Responder capciosas
perguntas... monossilabicamente... Foi o impossível. Porque jamais uma palavra
apenas diria do meu sentimento interior que extravasava em doçura e lágrimas
naquela manhã tão linda, de céu carregado e de chuvas torrenciais.
Saber
depois que uma das minhas respostas vitalizou na internet, postada por uma das
meninas presentes.
“O
amor não tem definição. Quando o amor for definido não será mais amor”.
Obrigada
aos deuses todos por permitirem que eu tivesse uma manhã tão linda. Por
permitir que entre nós vicejasse uma juventude tão ávida
de conhecimentos, amante dos livros, amante da vida.
Obrigada
dirigentes e professores deste magnífico Instituto Federal que tanta planta de
boa semente aqui já fizeram vicejar.
Escrito pela médica e escritora Adair Dittrich
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