quarta-feira, 7 de novembro de 2018

Retalhos de uma manhã de ternuras sem fim...


     Era uma manhã de céu carregado. Era uma manhã plena de nuvens escuras. Era uma manhã em que as águas do espaço fluíam com toda a força que a natureza possuía para empurrá-las, aos borbotões, em direção ao solo.
         Era uma manhã em que em um local encantado eu entrei. Levada por minha amiga Fátima Santos. Era uma manhã em que em um local encantado eu entrei atendendo a um convite singelo que brotava do fundo do coração daquela gente que naquele local encantado habitava.
         Era uma manhã de muita chuva que poderia bloquear o caminho de muitos. Mas não bloqueou o caminho, como jamais bloqueará, para aqueles especiais seres ávidos pelo conhecimento.    
         Uma silenciosa fila de adolescentes à espera de sua vez a fim de, em um livro de presença, o seu nome assinar. Porque eram partícipes de algo diferente para mim.
         Entramos no aconchegante auditório.
Estávamos em um pleno dia letivo. Sentia-se no ar o nervosismo, sentia-se no ar a curiosidade, sentia-se no ar a agonia sufocada pelo evento que em momentos seria anunciado.
         Estávamos no aconchego do auditório do Instituto Federal de Santa Catarina. Estávamos no Campus de Canoinhas.
         Eu não tinha ideia do que ali eu iria presenciar.
         Muitos dias antes haviam-me solicitado um exemplar de meu primeiro livro, do livro onde conto as coisas do meu lugar. “O Meu Lugar”, que ostenta na capa uma belíssima foto da estação ferroviária de Marcílio Dias. Uma foto do lugar onde vim ao mundo. Uma foto de Fátima Santos.

 
O evento fora programado para naquela plataforma ser realizado. As intempéries, a chuva, o vento e o frio não permitiram. Mas as imagens da minha estação de trem sucediam-se à minha frente. De todos os ângulos, de todas as formas. Em todas as cores. Fotos de Fátima Santos, naturalmente, entre outras.
         Fotos do restaurante da estação, o restaurante que meus Nonnos Pedro e Thereza Gobbi construíram, nas mais diversas fases de sua desintegração, lá estavam também.
         E as primeiras lágrimas começaram a escorrer.       
         As primeiras de uma série sem fim. As primeiras de uma série que continuou a se repetir no decorrer das apresentações.
         Tudo eu poderia ter imaginado. Menos o deslumbramento a que assisti.
         Ver e ouvir um dos meus textos declamado em forma de poema!
 
Ver e ouvir a um outro que fora transformado em melodia e a sua letra cantada em suavidade enterneceu-me demais.
         Assistir meninas transformadas nos meus fantasmas dançantes das noites de chuva... declamando o texto inteiro, com gestos dignos das estrelas que dançam... com as luzinhas ao fundo como se fossem as luzes dos olhos dos fantasmas que me olham...
         Ver os estudantes da Escola de Educação Básica “Manoel da Silva Quadros”, de Marcílio Dias, especialmente convidados, trajados com a tradicional vestimenta típica da região renana, apresentar um bailado com músicas germânicas, relembrando os primeiros colonos que à minha vila aportaram.
         E depois conversar com aquelas meninas e aqueles meninos. Responder capciosas perguntas... monossilabicamente... Foi o impossível. Porque jamais uma palavra apenas diria do meu sentimento interior que extravasava em doçura e lágrimas naquela manhã tão linda, de céu carregado e de chuvas torrenciais.
         Saber depois que uma das minhas respostas vitalizou na internet, postada por uma das meninas presentes.
“O amor não tem definição. Quando o amor for definido não será mais amor”.
         Obrigada aos deuses todos por permitirem que eu tivesse uma manhã tão linda. Por permitir que entre nós vicejasse uma juventude tão ávida de conhecimentos, amante dos livros, amante da vida.
         Obrigada dirigentes e professores deste magnífico Instituto Federal que tanta planta de boa semente aqui já fizeram vicejar.
 
Escrito pela médica e escritora Adair Dittrich


 
 





 


 
 

 

 
 
 

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