sábado, 24 de maio de 2014

Hospital Santa Cruz de Canoinhas

      Como surgiu a ideia de se construir um hospital em Canoinhas 

                        Por  Avany Dittrich Jürgensen
 

        Nas décadas  de 1910  e 1920,  Dona Tereza Gobbi  era dona de um hotelzinho, o Hotel Gobbi, perto da estação ferroviária de Marcílio Dias, cujo nome naquele tempo era  Canoinhas. Ficava quase às margens da linha ferroviária  e atendia o pessoal dos trens fornecendo-lhes marmitas. E assim ela tornou-se popular naquela freguesia.

       Certo dia ocorreu um acidente com um guarda freios de um trem de carga e ele ficou muito machucado, necessitando ser hospitalizado. Como sempre, prestativa, sabendo do sucedido, D. Tereza correu em seu auxílio juntamente com seu filho Pedro e demais pessoas. Mas, como havia carência de tudo para o socorro, em toda a redondeza, ela improvisou uma maca, feita de lençóis e o acidentado foi transportado para Curitiba de trem, levando um dia de viagem

      Surgiu então a ideia, proposta por seu filho Pedro de que se fizesse uma campanha para a construção de um hospital, pois condoeu-se muito ante a visão de tão lamentável ocorrência e tanta falta de recursos para minorá-las.

      Dona Tereza, apoiando a ideia do filho, levou avante seus propósitos. Transmitiu seu intento ao Dr. Oswaldo de Oliveira, conceituado e conhecido médico da localidade, que acolheu com grande satisfação a ideia, dando-lhe todo o apoio necessário.

     Dirigiu-se às autoridades para solicitar apoio, como também ao povo em geral e através da comunicação pessoa a pessoa, convocaram-se reuniões e organizou-se uma diretoria. E o “ponta- pé” inicial foi dado.

    Dona Tereza, com a vasta relação de amizades que conquistou em Curitiba, quando moradora daquela cidade, angariou prendas valiosas e com o auxílio de um grupo de senhoras conseguiu realizar a primeira festa em prol da construção do hospital. Inclusive doou as jóias de família que possuia e que havia trazido da Itália. Angariavam donativos em toda a redondeza e haviam muitas voluntárias abnegadas, dedicadas, suportando canseiras, humilhações e chacotas, como soe acontecer em atividades deste gênero. Não esmoreceram, porém.  Arrecadou-se uma boa quantia, falando-se em mais ou menos “Oito Contos de Reis”.  Mas
as coisas eram diferentes de hoje e não sabe  como, o montante arrecadado encolheu e para nada serviu.
               Por longo período a campanha estacionou. Foi uma ducha fria em todo aquele entusiasmo.
   Dona Tereza, após a morte de seu filho Pedro, com 28 anos de idade, em 1932, querendo prestar-lhe uma homenagem e com seu entusiasmo, reacendeu a campanha.
    Iniciaram-se as festas e os donativos. Os abnegados de bom coração se manifestaram e começou-se da estaca zero.
   Organizaram-se festas, inclusive em Três Barras e Marcílio Dias.
  Dona Tereza através de seu guarda-livros, Sr. Alfredo Lepper, de saudosa memória, redigia cartas a importantes indústrias de São Paulo, como Matarazzo, conseguindo importantes e valiosos donativos, inclusive ações e tecidos com os quais ela confeccionou os primeiros lençóis do hospital.
   Tendo conseguido a importância necessária, deu-se início às obras da construção. O terreno fora doado pelo Sr. Victor Soares, de saudosa memória e que Deus o recompense por tanta caridade, abnegação e desprendimento.
   Muita gente lutou e batalhou para tornar-se realidade este sonho. Não há como citar os nomes de todos, mas Deus em sua onisciência saberá recompensá – los devidamente.
   E Canoinhas deve seu reconhecimento a todos, não esquecendo do enorme benefício que já trouxe a tantos necessitados, minorando os seus sofrimentos e trazendo-lhes esperanças.
Avany Dittrich Jürgensen, autora do texto
(já falecida).



Festa em benefício da construção do hospital, 1939.
Dona Tereza Gobbi à esquerda.


Quarto do hospital (enfermaria de pediatria). As imagens que aparecem na
 parede foram  pintadas por  José Ganem Filho .
Fotos do acervo de Adaír Dittrich.
 

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